lembras-te daquela noite?
não?
lembras-te daquela tarde?
também não?
e lembras-te da primeira manhã?
eu não acredito em ti,
eu sei que te lembras,
sei que adormeces nessa imagem.
eu guardo em mim, só para nós,
esse momento.
às vezes apetece-me gritá-lo ao mundo,
até dos meus pulmões jorrar sangue,
a pele descarne da minha garganta.
mas não, não o faço.
se algum dia aquela tua fraqueza viesse a público
seria uma condenação ao apredrejamento,
talvez até morresses!
vou guardar a sete chaves,
carregar na minha cova,
esconder depois no inferno.
sonho que nunca devia ter sido sonhado,
em vontade e angústia no teu peito cerrado,
mas que em verdade é a tua mais bela memória.
sobrevivo sabendo que a história mais bonita
foi contigo e acordado,
ainda que o negues,
testemunha alguma exista,
em mim, corre vivo.
o dia em que nos cruzamos,
trocamos olhares,
não falamos, somos estranhos afinal,
porque nada aconteceu.
mas em mim nasce a lembrança
que se reproduz em ti,
e, por um instante,
voltamos àquela manhã, tarde, noite.
é em mim história,
os teus três melhores erros,
que, aos outros, são nada.
segue para braços alheios
comigo no coração.
eu durmo
onde fizemos amor no chão.