esperei por ti a tarde toda. contei os segundos e minutos até perfazerem horas. fingi ler e escrever, mas não consegui ultrapassar o mesmo paragrafo recorrente. bebi um café, desfolhei o jornal para esconder o meu olhar impaciente e levantei-me para ir à casa de banho vezes de mais. naquele ponto de encontro onde combinaste comigo, as pessoas mudavam constantemente a paisagem ao meu redor, tão rápido quanto os carros lá fora — na rua. só o lugar que guardei para ti permaneceu sempre vazio. preocupei-me com o que te pudesse ter acontecido. depois irritei-me e amaldiçoei o nome que a tua mãe te deu. por fim, desesperei. convenci-me que não ias entrar pela porta e inspeccionar o ambiente de raspão, à procura da minha face — que já conheces de cor. comecei a sincronizar pensamento e coração e atingi a dura placa da realidade — expulso do paraíso. talvez tenhas desistido de mim - esquecido de vez. quiseste abandonar-me e não encontraste a coragem. ou, se calhar, imaginei tudo. nunca tive alguém por quem esperar. começo a acreditar que és um esboço que rabisquei no papel, com a tinta negra da solidão. pensei que, ao fechar os olhos e desejar com todas as forças, pudesses saltar para a minha realidade. mas não. estarás sempre confinada entre paredes que não posso tocar.