capítulo I: benjamim
no liceu, verifica-se a coexistência de toda a espécie de estereótipos, que assim ganham vida. sendo aqueles imprescindíveis, o grupo das raparigas mais bonitas, desejadas por todos os rapazes (e alguns professores) e o conjunto de todas as restantes, praticamente invisíveis. a elite masculina, por seu lado, é reduzida aos atléticos desportistas e mais abastados, os outros são decoração ambulante. tal bela organização estratificada e altamente hierarquizada seria o suficiente para caracterizar todas as escolas, mas não esta. benjamim era tão peculiar, que não se enquadrava em algum estereótipo comum. a sua existência era conhecimento popular, que suscitava um certo fascínio e curiosidade por parte dos seus pares, uma curiosidade talvez típica daquela idade. falava com ninguém por opção própria, como um erudita isolado na multidão. entretinha-se a ler poesia, ficção científica e, principalmente, a sonhar. benjamim fazia parte dos melhores alunos, mas não era considerado o melhor (ainda que o fosse, na verdade). isto porque, os seus professores não eram capazes de compreender as suas brilhantes respostas, deduções e abstracções. quando tal acontecia, ao invés de se submeterem ao ridículo, simplesmente anulavam aquela porção. benjamim pouco se importava, apercebia-se sempre e sorria. estava ciente da veracidade das suas respostas e percebia que nem todos eram capazes de entender a bela genialidade do universo. todo o tempo livre era investido enclausurado dentro das paredes do seu quarto, onde mantinha diversas ferramentas exóticas, protótipos e projectos. interessava-se imenso por biologia, nomeadamente a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. no entanto, a sua grande paixão era a física, a matemática e a engenharia. o expoente máximo da grandiosidade da arte intelectual do homo sapiens. sempre que sofria de insónias, gostava de se deitar na cama a fitar os tons brancos do tecto, enfeitado com o seu candeeiro, depois de reencaminhado da casa dos seus avós. costuma-se ensinar a contar carneiros para adormecer, um pequeno truque. benjamim preferia recitar números primos. certo dia, enquanto experimentava diferentes químicas, combinações e reacções, produziu um novo tipo de fibra metálica. era tão estranha! maleável como o algodão, resistente como o kevlar e tão pesada quanto a lã. ficou excitadíssimo e imaginou de imediato peças de vestuário à base da sua nova descoberta. depois de alguns dias, tinha um casaco pronto. ao estilo motoqueiro, com uma aparência similar ao cabedal, mas bem mais imponente! na primeira vez que o vestiu para a escola, toda a gente reparou, toda a gente comentou. apelidaram-no de "o rapaz do casaco de metal" e doravante seria sempre assim conhecido, pois não houve um outro dia em que saiu de casa sem ele. benjamim era tão orgulhoso do seu acessório, ainda que fosse gozo, apresentava-o com o maior dos prazeres.
capítulo II: como surgiu tal nome