ao entrar no quarto,
não se ouviu um som.
tudo parecia bom,
fosse aqui ou além.
mas eis que do fundo surgiu,
uma voz a gritar "ninguém".
desci rapidamente as escadas.
"o lugar está vazio",
garantiu o senhorio,
"não há maior paz em belém".
mas eu juro, de novo, ter ouvido,
um sussurro pronunciar "ninguém".
deitei-me e cobri a cabeça.
"só pode ser alucinação,
acalma-te coração!"
cerrei os olhos e contei até cem.
mas estava prestes a dormir,
quando o silêncio mencionou "ninguém".
não existem fantasmas.
algo se esconde, certamente.
"mostra-te, cobarde latente!"
"o que seria?" pensei eu, "quem?"
mas a resposta era repetitiva,
nada mais do que "ninguém".
virei o quarto do avesso,
comportei-me como louco,
desisti e pensei um pouco.
conclui não haver sombra de alguém.
mas quando olhei pela janela,
eu vi um corvo proclamar "ninguém".
questionei o pássaro negro,
inquiri-lhe, talvez a medo,
esperei ouvir em segredo.
"o meu pobre coração, quem o tem?"
como se nada tivesse ouvido,
continuou repercutindo "ninguém".