domingo, 17 de abril de 2011

esta não é a ninguém, mas a ti

bom dia. acordei com um nó no peito, apressei-me para o desfazer mas a tentativa foi em vão. debruçado sobre o espelho eu vi, a marca de água que se queimou a sangue nas costas de um coração inocente. tentei guardá-la o mais longe da vista, para que nunca mais sentisse o calor da luz. procurei esquecer-me que existe, esquece-la derradeiramente seria a melhor solução mas ainda não estou preparado para deixar este mundo. já reli as cartas, decorei os contornos, cores e pormenores das fotografias, embrulhei em nacos de terra que pedi a um transeunte vendedor para perder. é assim que consigo encontrar um novo dia, todos os dias ao longo dos anos. estragas tudo com as tuas aparições luxuriantes, cobertas de mel e nozes. voltei a sonhar com um beijo épico, nunca este meu pobre coração conheceu um abismo maior e mais tenebroso de saudades. vou-me embora com um adeus que esconde no bolso um ponto final até que me chama da porta a tua voz de cereja e a distância se encurta numa singularidade. mais vale remover a gordura que me turva a visão, jamais haverá um outro amor igual. são efeitos secundários da primeira vez, mazelas que me pesam até morrer. foste a única, verdadeira e maldiçoaste todas as outras.