sexta-feira, 29 de abril de 2011

ninguém me diz e eu tão pouco sei

faz anos que não me apaixono, perdi todo e qualquer contacto com o amor. tenho a certeza que não o reconheço se passar por mim na rua, deve estar tão diferente da minha memória. é daquele tipo de coisa que ninguém jamais me poderá dizer "olha, está aqui o amor. diz-lhe olá, rápido!", mas era bom que assim o pudesse ser. como será que se veste nestes dias? já não consigo distinguir um sorriso inocente de um outro, atraente. qualquer olhar é-me igualmente perturbante, sou incapaz de enfrentar seja qual for. se tivesse de adivinhar, diria que o amor tem ido ao ginásio, perdeu peso e está mais elegante do que nunca. mas a culpa é também sua, foi ele que partiu, trancou a porta e levou consigo a chave. eu sentei-me ao canto da sala, a observar a janela sem qualquer sombra de coragem para saltar e escapulir. nos meus dias, apaixono-me a cada instante, por um simples sorriso que seja. depois, passo o tempo a criar elaborados defeitos que colo em ti como lembretes, para me convencer cegamente que mais ninguém te desejará. mas eu não sei por quem valha a pena lutar, talvez por todo alguém ou talvez por ninguém. resigno-me a amar para dentro, cada vez mais fundo, cada vez mais efémero e cada vez mais para sempre.