quarta-feira, 13 de abril de 2011

um desastre à porta de casa

quem disse que as desgraças acontecem lá longe, somente aos outros? com certeza, jamais aqui, a nós! perguntei onde foi o meu amor, onde se escondeu. será que fugiu? abandonou-me à minha sorte, pura precariedade, ainda para mais nesta idade! maldito seja o desgraçado, convencido, pestilento amor que me desertou. rogo-te pragas daqui até ao centro do sol, onde espero que ardas enquanto houver uma réstia de humanidade. já me conformei e digo-te "faz boa viagem" do fundo de um coração vazio, poeirento, despido de toda uma mobília outrora rica de memórias gravadas em fotografias, cravadas na madeira, incrustadas no cheiro a pinho. quando um dia resolveres voltar, vou abrir-te a porta vestindo o bonito sorriso de seda que levaste no bolso. vou mergulhar nos teus olhos azuis em busca de algum tesouro esquecido nas profundezas do abismo onde uma vez me perdi de mim, me perdi de ti e do mundo, me perdi do próprio tempo. vou agarrar-te pela cintura que estas mãos antes seguraram tão firmemente quanto possível sem causar dano permanente. nesse momento, eu vou esperar. vou esperar que soluces "a cada dia que passa penso em ti duas vezes mais do que no anterior, as minhas saudades aumentam com o quadrado da distância que nos separa" para docemente te sussurrar "eu sei, agora deixa-me e vai-te embora".