capítulo I: benjamim
benjamim nasceu num hospital de tamanho médio onde os médicos não eram os mais simpáticos ou as enfermeiras as mais rabugentas, igual a tantos outros. não teve sorte nem azar com o pediatra de serviço, de pouco mérito e desastrado, era carinhoso e por pouco não deixou o recém-nascido mergulhar de cabeça frente a uma plateia ansiosa de espectadores com os olhos regalados. os seus progenitores são o que se pode chamar de bons pais, pagam os impostos a tempo e gostam mutuamente um do outro. não é um amor de perdição, mas nunca pairou sobre eles a nuvem do ódio.
na semana seguinte, benjamim é levado para casa. está maravilhado com a beleza do mundo exterior, da qual apenas ouvira falar durante os últimos nove meses. de repente alguém comenta entusiasmado "estamos quase a chegar" e a atenção ferra-se ainda mais sobre aquele que será o seu bairro. algo estranho e inquietante, os jardins dos vizinhos são todos similares. a verdade é que a sua mãe, julieta, é quem cuida da jardinagem da zona. já o seu pai, eduardo, é bancário. o carro pára em frente a uma garagem e a vizinhança é pouco estimulante, similar a muitas outras. não é luxuriosa, pretensiosa ou pobre, mas humilde e corriqueira, rotineira. eduardo cordialmente segura a porta para julieta que carrega benjamim nos braços. aquele espaço é meticulosamente analisado e a conclusão é simples e previsível. trata-se de uma casa mediana, simpática e acolhedora. a entrada é bonita e bem cuidada, mas praticamente idêntica à do vizinho da esquerda.
a verdade é que nem tudo é normal, cinzento e regular. algo de muito peculiar surgiu naquele pequeno refúgio da complicada sociedade moderna e conformada, no dia em que benjamim chegou ao mundo. um corpo estranho que deturpa todo um sólido quotidiano, repetitivo e monótono. desde tenra idade que benjamim demonstra uma elevada aptidão para desvendar padrões que iludem as mentes mais brilhantes. com um ano somente, já soluciona puzzles de dez mil peças em menos de uma hora. aos dois anos já fala consciente e fluentemente. para celebrar o seu terceiro aniversário já datilografa as cartas aos convidados. um ano mais tarde, benjamim escreve tão eloquentemente como julieta e resolve a sua primeira equação matemática. perdida na secretária de eduardo, a solução é-lhe tão óbvia quanto o verde que obtém depois de juntar aguarelas azul e amarela. no entanto, aquela previsão económica há dias que tirava o sono ao seu pai.
ao atingir a idade escolar, benjamim é a novidade das redondezas. proclama Shakespeare de memória e já leu o épico romance Moby Dick por duas vezes. no entanto, Júlio Verne e Isaac Asimov são os seus autores de eleição.
a verdade é que nem tudo é normal, cinzento e regular. algo de muito peculiar surgiu naquele pequeno refúgio da complicada sociedade moderna e conformada, no dia em que benjamim chegou ao mundo. um corpo estranho que deturpa todo um sólido quotidiano, repetitivo e monótono. desde tenra idade que benjamim demonstra uma elevada aptidão para desvendar padrões que iludem as mentes mais brilhantes. com um ano somente, já soluciona puzzles de dez mil peças em menos de uma hora. aos dois anos já fala consciente e fluentemente. para celebrar o seu terceiro aniversário já datilografa as cartas aos convidados. um ano mais tarde, benjamim escreve tão eloquentemente como julieta e resolve a sua primeira equação matemática. perdida na secretária de eduardo, a solução é-lhe tão óbvia quanto o verde que obtém depois de juntar aguarelas azul e amarela. no entanto, aquela previsão económica há dias que tirava o sono ao seu pai.
ao atingir a idade escolar, benjamim é a novidade das redondezas. proclama Shakespeare de memória e já leu o épico romance Moby Dick por duas vezes. no entanto, Júlio Verne e Isaac Asimov são os seus autores de eleição.