domingo, 13 de junho de 2010

fruto proibido

disseram-me que estou melhor sem te ver,
proibiram-me de me aproximar e dizer
és a mais bela das criaturas do universo,
em ti se converge o meu olhar disperso.

que me enclausurem em muros de betão,
por cada um que suba, um mais alto erguerão,
as palavras ensanguentadas que me cravam
não vão ser abafadas por aqueles que me travam.

vou dizer-te daqui um adeus e até logo,
um dia sem te ver e parece que me afogo,
para parecer que um reencontro espero,
não te conheço e já assim desespero.

da última vez que te vi,
virei a cara e a medo lá sorri,
não fosses quiçá tu entender
arrasto-me em sonho de te ter.

tudo mais que te gostaria de berrar,
sair para fora e deixar-me lá ficar
até que fosse conhecimento popular
como este coração consegues arrancar.

percorreria o país de norte a sul,
visitaria qualquer e outro cônsul
do mais liberal ao mais guerreiro,
ser-te cordial e não grosseiro.

seja o que for, desejes ou precises,
um casaco sobre o chão que pises.
este e aquele fruto proibido,
de todos, és o mais apetecido.

tanto para poder encontrar, ter um pouco
deste emoção que me deixa completamente louco.
começa na mais grave e termina naquela bem aguda,
a cativante nota que não tarda me ensurda.

se eu te pudesse ter aqui um só segundo,
segurar-te a mão e possuir o mundo
até o tempo nos teus olhos parar
e a ferida que tenho em mim sarar.

se te visse passar diante de mim,
impotente para te alcançar, seria o fim.
aproximo-me demasiado que dói
saber o que podia e agora já foi.

quando não me esqueço até irrita,
pensar no quanto tu és mesmo bonita,
relembrar aquela memória inventada
os dois juntos na pequena varanda.

diz que me devo enfim declarar
e esta máscara possa finalmente retirar,
deixar de ser a sombra a teus pés
para tornar-me tudo o que vês.

de cada vez que me apaixono
é uma estrada sem retorno,
atiro o velocímetro à sorte
que parar-me só em morte.

isto no meu peito é um sentimento
que chega a ser arrependimento,
quando fito o mundo tudo mexe
mas em mim já nada cresce.

eu sei que somos perfeitos estranhos
um vulto nos teus olhos castanhos,
mas eu vou continuar aqui à espera
que um dia digas 'e aquele, quem era?'.