domingo, 20 de junho de 2010

o amor acontece

uma vez disseram-me que o amor não acontece,
que tem de se fazer o amor.
comparam a probabilidade de o amor acontecer,
sem o provocar, àquela de ganhar a lotaria
(ou encontrar um maço gordo de notas no chão).
eu cá não acredito nisto.
é óbvio que, para um ser isolado com fronteiras,
o amor não lhe bate à porta (e daí talvez,
uma bela rapariga que entregue cartas).
mas numa vida de interacção social, dita normal,
o amor acontece.
eu cá acredito que sim.
pode não se encontrar um maço gordo de notas no chão,
mas às vezes, um documento perdido é o suficiente.
uma cadela que se aproxima demasiado da nossa fera,
a bela dona lá vem de arrastão. a conversa de elevador
depressa se transforma em conversa de café à tarde.
não tarda surge um jantar fora e cinema
que termina à porta de casa dela, à chuva.
um beijo de despedida.
é óbvio, algumas das vezes, o ser é tão belo,
o aperto no coração tão forte que não há outra solução.
em pé de medo lá se aproxima dela e, com um leve toque
no ombro, só para captar a atenção, dizemos
'desculpa, acho que deixaste cair isto'. entregamos aquele
pedaço vergonhoso de papel amarrotado que diz em letra
bem tremida 'é mentira, só queria ver como és mesmo
toda a beleza que imagino, os teus olhos de perto são
espelho do meu coração liquefeito'. o mais importante é,
sem dúvida, aproveitar todo o tempo que se tem.
não o desperdiçar naquela busca fortuita e constante,
obsessiva, compulsiva e agonizante. assim o amor tem medo,
esconde-se.
o amor, esse acontece, eu cá acredito que sim. acontece a ti,
acontece a mim, acontece a ele e acontece a ela.
um dia, eu sei que sim, também vai acontecer a nós.