segunda-feira, 28 de março de 2011

a morte do artista

a morte do artista é um desabafo à realidade, um olhar perspicaz sobre a ilusão do declínio da arte. sim, ilusão de declínio, porque um artista que foi capaz de produzir uma boa peça é, certamente, capaz de repetir tal feito. existem diferentes artistas, os mais talentosos poderão ser capazes de criar maravilhas em quase todas as vezes que tentam enquanto os menos virtuosos terão de produzir uma maior quantidade até, finalmente, se poder apresentar uma boa criação ao mundo. o que está em causa é, simplesmente, a capacidade que um autor tem para filtrar aquilo que produz. assistimos a comentários como "ele só era bom quando não era conhecido", que são falsos. o artista ainda é bom. na verdade é um autor da segunda espécie, menos virtuosa, e que precisa de filtrar mais mas não o faz, porque depois de provar do estrelato, onde todos o elogiam, ele torna-se convencido, seguro de si e que tudo o que produz é uma obra admirável. não é, de todo. um bom artista é aquele que se encontra na primeira espécie ou consegue manter aquele filtro pessoal intacto, ainda depois de atingir algum reconhecimento. é assim que assistimos à ilusão da morte do artista, o autor não morreu, o criador não perdeu capacidades, ele apenas se descartou do filtro quando pensou não mais precisar da sua humilde opinião. um artista não devia ter plena consciência do verdadeiro impacto do seu trabalho. por isso, grandiosos são os nomes daqueles que o foram apenas em morte. com dedicação e força de vontade, um artista espezinhado é o melhor dos autores e as suas composições incorporarão os sentimentos mais realistas de sempre.