poesia não é nada,
nada mais do que mera poesia.
são as palavras de um bonito rosto,
próprio ou emoldurado.
como um pequeno rapaz,
desejando ser mais do que é,
assim são as frases declamadas.
em torno da vogal mais sonante,
da sílaba mais cantante,
do provérbio aliciante,
sou eu a falar discordante.
apresento estas palavras em branco,
onde colori com o meu pincel
uma bela imagem muda.
palavras, e nada mais do que isso,
que ousaram atravessar o meu caminho.
agora, falo sozinho
para paredes entorpecidas
onde já não se sente textura alguma.
como a minha voz,
que se despiu dos seus tons estridentes,
jazem perdidos nos meus versos - latentes.
para que um dia,
quando nada mais restar,
toda a poesia acabar,
esta minha voz vazia
possa finalmente ecoar.